SEXY-GRUNGE;
O estilo calcado na cena alternativa musical de Seattle dos anos 90 volta a entusiasmar e inspira uma maneira de vestir neorrebelde e assumidamente sexy.
De Londres a Barcelona – e também na Ásia -, as ruas mostram sinais de rebeldia fashion como há tempo não se via. Novas versões do grunge vestem garotos e garotas. Apesar de bem menos trash que na origem, o visual traz as sementes da discórdia e da neorrebeldia. E o mais engraçado é que essa antimoda parece bem relevante num momento em que a moda está saturada de opções e se interroga sobre os caminhos a seguir. Mesmo em suas versões mais “butique”, o toque grunge traz inovação até em visuais consagrados. Observei Kate Moss e Erin Wasson assediadas por paparazzi durante compras em Los Angeles. As duas são admiradas por terem um estilo que sempre navega nas ondas do rock. Pois bem. Erin, com seus shorts “quase nada”, jeans destroçados e megacamiseta, é grunge. E sinceramente estava dando um banho em Kate, com seu confuso mix The Kills-TopShop.
Em seus últimos dois desfiles, o estilista americano Alexander Wang, orientado por Erin Wasson, mostrou um grunge de luxo e fez sucesso vestindo as meninas mais “in” de Manhattan. A sobreposição de pequenas peças que parecem emprestadas do namorado em contraste com outras, ultrafemininas e sinuosamente ajustadas ao corpo, revelou o verdadeiro segredo do neogrunge: ele é sexy como nunca foi. O grunge original era conseguido com justaposição de peças baratas, compradas nos depósitos do Exército da Salvação. O look, totalmente Kurt Cobain, devastador, andrógino, heroicamente desleixado, com cabelos longos para eles e para elas, promoveu revoluções. Criado durante um período de recessão, o som, entre o punk e o heavy metal, com letras niilistas carregadas de ceticismo e descontentamento, reação à sociedade consumista, encontrou eco no inconsciente coletivo. A filosofia grunge sempre quis celebrar a individualidade. O movimento foi tão forte que até o establishment da moda entrou nessa. E a glorificação veio por meio da histórica coleção Marc Jacobs para Perry Ellis em 1992, celebrada por ensaio fotográfico de Steven Meisel nas paginas da Vogue americana.
Em época de grande insatisfação coletiva como agora, a roupa tende a ser contestadora, já que a demonstração externa de nossas atitudes mais íntimas. O novo grunge, portanto, mais que simples opção de estilo, é um statement político. Para usar jeans e shorts ultralavados e destruídos, é bom antes ouvir tudo do Nirvana, Pearl Jam e Soundgarden. Vestir botas Doc Martens a toda hora, com bainhas ultracurtas revelando meias finas rasgadas, requer a irreverência do Smashing Pummpkins. Importante é insistir no look andrógeno até para saídas noturnas e, se houver coragem, conseguir efeito assimétrico raspando longos cabelos de um só lado como fez Alice Dellal, it-girl anglo-brasileira. Lembre que atitudes e roupas falam – frequentemente até mais que palavras.
¬ Alexander Wang, inverno 2008-2009
¬ Ensaio de Steven Meisel para Vogue americana e Alice Dellal com shorts jeans detonado, meia rasgada, cuturno, jaqueta aviator e cabelo raspado.
